quinta-feira, novembro 15, 2007

- O lobo das estepes -

(Hermann Hesse)


Eu, lodo das estepes, corro, corro,
a neve cobre o mundo,
da bétula levanta voo o corvo,
mas nunca aparece uma lebre, nunca aparece um cervo.
E como eu amo os cervos!
Se acaso encontrasse algum,
prendia - o com garras e dentes:
é a coisa mais bela em que penso.
Com os sensíveis seria também sensível,
devorava - os todos de extremo a extremo,
bebia - lhes até ao fundo o sangue púrpura e espesso,
e solitariamente uivava pela noite dentro.
Contentava - me com uma lebre.
É tão doce à noiteo sabor da sua carne quente.
Porventura foi - me negado tudo quanto possa, um pouco,
alegrar a vida, um pouco apenas?
A minha companheira, há muito que não a tenho,
o pêlo da minha cauda começa a ficar cor de cinza,
e só quando há bastante luz é que vejo.
Agora corro e sonho com cervos,
ouço o vento soprar nas grandes noites de inverno,
e a minha alma dolorosa, entrego - a eu ao demónio.

Doze Nós numa Corda
(poemas traduzidos para português por Herberto Herder)

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