sexta-feira, novembro 23, 2007


"Plantar uma árvore era, por consequência, um acto divino. Fazer prosperar a terra estéril era tomar parte no acto da criação. Ensinar essas coisas aos outros homens era fazê - los participar também num plano divino..."



In, Morris L. West, O advogado do Diabo, 2ªedição, Lisboa, Livraria Clássica Editora A. M. Teixeira & C.A (Filhos) Lda, 1963, p.67.


Y A Rucinega, foto de Ángel Durán.

quinta-feira, novembro 22, 2007


Prefiero los gatos a los perros

porque no hay gatos policías.



Jean Cocteau (1889 - 1963)

quarta-feira, novembro 21, 2007


Tocados de otros días,

mustios encajes y marchitas sedas;

salterios arrumbados,

rincones de las salas polvorientas;

daguerrotipos turbios,

cartas que amarillean;

libracos no leídos

que guardan grises florecitas secas;

romanticismos muertos,

curselerías viejas,

cosas de ayer que sois el alma, y cantos

y cuentos de la abuela!...


Antonio Machado, Poesías Completas y Patio de los Ojestos - San Martín de Trevejo, 2007, Foto de Ángel Durán

segunda-feira, novembro 19, 2007


Es muy importante

incluso si se trata de un perro,

que alguien le quiera más

que al resto del mundo.



Jules Roy (1907 - )

EL POETA LLEGA A LA HABANA


SÓN DE NEGROS EN CUBA


Cuando llegue la luna llena iré a Santiago de
Cuba,
iré a Santiago,
en un coche de agua negra.
Iré a Santiago.
Cantarán los techos de palmera.
Iré a Santiago.
Cuando la palma quiere ser cigueña,
iré a Santiago.
Y cuando quiere ser medusa el plátano,
iré a Santiago.
Iré a Santiago
con la rubia cabeza de Fonseca.
Iré a Santiago
Y con la rosa de Romeo y Julietairé a Santiago.
Oh Cuba! Oh ritmo de semillas secas!
Iré a Santiago.
Oh cintura caliente y gota de madera!
Iré a Santiago.
Arpa de troncos vivos. Caimán. Flor de tabaco.
Iré a Santiago.
Siempre he dicho que yo iría a Santiago
en un cohe de agua negra.
Iré a Santiago.
Brisa y alcohol en las ruedas,
iré a Santiago.
Mi coral en la tiniebla,
iré a Santiago.
El mar ahogado en la arena,
iré a Santiago.
Color blanco, fruta muerta,
iré a Santiago.
Oh bovino frecsor de cañaveras!
Oh Cuba! Oh curva de suspiro y barro!
Iré a Santiago.


Federico García Lorca, Poeta en Nueva York (1929 - 1930)

domingo, novembro 18, 2007

Por qué no te callas?



HUYDA DE NUEVA YORK
Un vals hacía la civilización


Vals en Ramas


Cayó una hoja
y dos
y tres.
Por una luna nadaba un pez.
El agua duerme una hora
y el mar blanco duerme cien.
La dama
estaba muerta en la rama.
La monja
cantaba dentro de la toranja.
La niña
iba por el pino a la piña.
Y el pino
buscaba la plumilla del trino.
Pero el ruiseñor
lloraba sus heridas alrededor.
Y yo también
porque cayó una hoja
y dos
y tres.
Y una cabeza de cristal
y un violín de papel
y la nieve podría con el mundo
una a una
dos a dos
y tres a tres.
Oh, duro marfil de carnes invisibles!
Oh, golfo sin hormigas del amanecer!
Con el numen de las ramas,
con el ay de las damas,
con el croo de las ranas,
y el geo amarillo de la miel.
Llegará un torso de sombra
coronado de laurel.
Será el cielo para el viento
duro como una pared
y las ramas desgajadas
se irán bailando con él.
Una a una
alrededor de la luna,
dos a dos
alrededor del sol,
y tres a tres
para que los marfiles se duerman bien.


Federico García Lorca, Poeta en Nueva York (1929 - 1930)

sábado, novembro 17, 2007


Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.


Alberto Caeiro, Ficções do Interlúdio y San Martin de Trevejo - Nacarada, Foto de Ángel Durán

sexta-feira, novembro 16, 2007


AR LIVRE


Enquanto os elefantes pela floresta galopam
no fumo do seu peso,
perto, lá andava ela nua a cavalgar o antílope,
com uma asa direita outra caída.
E a amazona seguia...
e deixava a boca no sumo das laranjas.
Os olhos verdes no mar.
O corpo em a nuvem das alturas
- a guardadora
da sempre nova faísca de incendiária!

Edmundo Bettencourt (1899 - 1973), Poemas Surdos

quinta-feira, novembro 15, 2007

- O lobo das estepes -

(Hermann Hesse)


Eu, lodo das estepes, corro, corro,
a neve cobre o mundo,
da bétula levanta voo o corvo,
mas nunca aparece uma lebre, nunca aparece um cervo.
E como eu amo os cervos!
Se acaso encontrasse algum,
prendia - o com garras e dentes:
é a coisa mais bela em que penso.
Com os sensíveis seria também sensível,
devorava - os todos de extremo a extremo,
bebia - lhes até ao fundo o sangue púrpura e espesso,
e solitariamente uivava pela noite dentro.
Contentava - me com uma lebre.
É tão doce à noiteo sabor da sua carne quente.
Porventura foi - me negado tudo quanto possa, um pouco,
alegrar a vida, um pouco apenas?
A minha companheira, há muito que não a tenho,
o pêlo da minha cauda começa a ficar cor de cinza,
e só quando há bastante luz é que vejo.
Agora corro e sonho com cervos,
ouço o vento soprar nas grandes noites de inverno,
e a minha alma dolorosa, entrego - a eu ao demónio.

Doze Nós numa Corda
(poemas traduzidos para português por Herberto Herder)

terça-feira, novembro 13, 2007


Diz à Primavera:
estende as nuvens do teu manto
e abre os teus véus
sobre os lugares onde brinquei
na minha infância.



não me desiludas, Primavera
as minhas lágrimas vão no teu encalço
em longas vagas.
mistura o perfume da minha saudade
a humidade das nuvens
para aspergires aqueles a quem amo.
debruça - te sobre Córdova e estreita - a
como eu a estreitaria contra o peito
depois,
sobre os vales e colinas que são seus
espalha flores
que anunciarão através de ti
que lhe mando a mensagem.



Ibn' Darraj Al - Qastalli (958 - 103o), O meu coração é árabe (tradução de Adalberto Alves) y

Almendruqueiru, Foto de Ángel Durán

sábado, novembro 10, 2007


(Dincas, Sudão)


No tempo em que Deus criou todas as coisas,

criou o sol,

e o sol, e morre, e volta a nascer;

criou a lua,

e a lua nasce, e morre, e voltam a nascer;

criou o homem,

e o homem nasce, e morre, e não volta a nascer.


Poesia Toda (versão de Herberto Helder) y Foto de Ángel Durán

sexta-feira, novembro 09, 2007


Meto - me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dão as boas - noites,
E a minha voz contente dá as boas - noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito,
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.

Alberto Caeiro, Ficções do Interlúdio y Febrero, Foto de Ángel Durán


La amistad del perro es, sin duda, más viva y constante que la del hombre.



Michel de Montaigne (1533 - 1592)
Curro 3, Foto de Ángel Durán

quinta-feira, novembro 08, 2007


-Canto de Nosso Senhor o Esfolado-

(Astecas)


Tu, bebedor nocturno
enverga as vestes de ouro,
tuas vestes de ouro e chuvas!
Escorreu, ó deus, a água de pedras preciosas.
O cipreste alto transmudou - se em quetzal;
em serpente de quetzal se transmudou a serpente de fogo;
libertou - me, a serpente de fogo.
Talvez eu me vá embora, talvez vá, talvez vá embora para me queimar,
eu, a doce planta de milho.
O meu coração é uma preciosa pedra verde,
mas o ouro, ainda o verei dentro dela, ainda verei o ouro.
Quando o meu coração amadurecer,
em júbilo, quando o coração ficar maduro.
Meu deus, faz fremir os pés de milho dentro da terra,
faz crescer os pés de milho.
Fixarei os olhos no cimo da montanha de esmeralda,
em júbilo, os olhos no cimada montanha,
e há - de nascer o senhor da guerra quando o ouro ficar maduro.


Poemas Ameríndios
(Poemas mudados para português por Herbero Helder) y
Noviembre, Foto de Ángel Durán

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.


Pensar uma flor é vê - la e cheirá - la
E comer um fruto é saber - lhe o sentido.


Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá - lo tanto,
E me deito a comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

Alberto Caeiro, Ficções de Interlúdio
Estápias, Foto de Ángel Durán

quarta-feira, novembro 07, 2007


El rojo sol de un sueño en el Oriente asoma.
Luz en sueños. No tiembles, andante peregrino?
Pasado el llano verde, em la florida loma,
acaso está el cercano final de tu camino.
Tú no verás del trigo la espiga sazonada
y de macizas pomas cargando el manzanar,
ni de la vid rugosa la uva aurirrosada
Cuando el primer aroma exhalen los jazmines
y cuando más palpiten las rosas del amor,
una mañana de oro que alumbre los jardines,
no huirá, como una nube dispersa, el sueño en flor?
Campo recién florida y verde, quién pudiera
sonãr aún largo en esas pequeñitas
corolas azuladas que manchan la pradera,
y en esas diminutas primeras margaritas!

Antonio Machado y Foto de Ángel Durán

terça-feira, novembro 06, 2007


BALADILLA DE LOS TRES RÍOS


El río Guadalquivir
va entre naranjos y olivos.
Los dos ríos de Granada
bajan de la nieve al trigo.


Ay, amor
que se fue y no vino!


El río Guadalquivir
tiene las barbas granates.
Los dos ríos de Granada,
uno llanto y otro sangue.


Ay, amor
que se fue por el aire!


Para los barcos de vela
Sevilla tiene un camino;
por el agua de Granada
sólo reman los suspiros.


Ay, amor
que se fue y no vino!


Guadalquivir, alta torre
y viento en los naranjales.
Dauro y Genil, torrecillas
muertas sobre las estanques.


Ay, amor
que se fue por el aire!

Quién dirá que el agua lleva
un fuego fatua de gritos!


Ay, amor
que se fue y no vino!


Lleva azahar, lleva olivas,
Andalucía, a tua mares.


Ay, amor
que se fue por el aire!


Federico García Lorca, Poema del Cante Jondo (1921 - 1922)

segunda-feira, novembro 05, 2007


Inscrição para a cabana do eremita de Tsuei



O caminho dos simples coberto de musgo vermelho

A janela na montanha abrindo para o azul

Invejo - te o vinho que bebes entre as flores

e todas essas borboletas que voam nos teus sonhos.



Tsieu Ki, China (Século VIII D.C), O vinho e as rosas
San Martin de Trevejo - A tranquiliai dun sitiu, Foto de Ángel Durán

domingo, novembro 04, 2007


O GATO


Lindo gato, vem cá, vem ao meu colo;
Encolhe as unhas dessa pata,
E deixa que eu mergulhe nos teus olhos,
Um misto de metal e ágata.

Quando os meus dedos, à vontade, afagam
O dorso elástico, a cabeça,
E a mão se me inebria de prazer
No corpo eléctrico, a apalpá - lo,


Vejo a minha mulher. O seu olhar,
Tal como o teu, querido animal,
Frio e profundo, dende - nos qual dardo,

E da cabeça até aos pés
Um ar subtil, um perfume rigoroso
Nadam em torno do seu corpo.

Charles Baudelaire (1821 - 1867), As Flores do mal (tradução de Fernando Pinto do Amaral)
Foto de Ángel Durán


Às vezes tenho ideias, felizes,
Ideias sùbitamente felizes, em ideias
E nas palavras em que naturalmente se despegam....


Depois de escrever, leio...
Porque escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...

Álvaro de Campos, Poemas

sábado, novembro 03, 2007


La vid ha cautivado mi ser. Posiblemente

el cuerdo ha de mofarse, mas quizá de mi carne

salga un día la llave que abra aquella puerta

que siempre vio cerrada ante sus ambiciones.



Omar Kheyyam, Rubaiyat
Cerrollu denatis, Foto de Ángel Durán

quinta-feira, novembro 01, 2007


El rojo sol de un sueño en el Oriente asoma.
Luz en sueños. No tiemblas, andante peregrino?
Pasado el llano verde, en la florida loma,
acaso está el cercano final de tu camino.
Tú no verá del trigo la espiga sazonada
y de macizas pomas cargando el manzanar,
ni de la vid rugosa la uva aurirrosada
ha de exprimir su alegre licor en tu lagar.
Cuando el primer aroma exhalen los jazmines
y cuando más palpiten las rosas del amor,
una mañana de oro que alumbre los jardines,
no huirá, como una nube dispersa, el sueño en flor?
Campo recién florido y verde, quién pudiera
soñar aún largo tiempo en esas pequeñitas
corolas azuladas que manchan la pradera,
y en esas disminutas primeras margaritas!

António Machado
Xálima, Foto de Ángel Durán