sexta-feira, dezembro 30, 2011

"Por toda a parte se constrói. A população de Hong-kong quase triplicou; e os refugiados chegam da China à razão de dez mil por semana." Ouve-se dinamitar, perfurar, martelar dia e noite. As pacíficas colinas estão agora envolvidas em barulho e agitação humana. Os ricos levantam as suas moradias sobre as eminências, os outeiros e os cabeços que se erguem na parte alta da ilha. Antes de começar a construção é preciso, para atingir a projectada residência, abrir um caminho de acesso, profundamente cavado no flanco da colina. E para se obter uma superfície suficientemente plana para os alicerces é necessário decapitar o outeiro. Na zona das colinas o trabalho atinge o auge numa dúzia de sítios ao mesmo tempo. Dezenas de mulheres hakka, vestidas de negro, com a cabeça coberta por uma aba de palha sem copa, levam - processão de formigas - cesto após cesto cheio de terra. O cimo da colina é ruído pouco a pouco, e a terra aparece como uma mancha de ocre no coração da verde relva. Aqui e ali as mulheres amontoam massas cónicas de terra que ficam como longos dedos apontados para o céu. A altura serve para determinar a quantidade de terra transportada e fixar o salário. Para terminar nivelam o solo com os pés nus e compridos paus, e só depois se começam as fundações."

Han Suyin, A colina da saudade, Barcelona, Círculo de Leitores, 1973.

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