domingo, janeiro 07, 2007


Rio Maníaca

Mania de te amar,
cidade minha,
por mais que os teus defeitos
me atormentem.
Por mais que te maldiga
esta gente
que, em vez de te ajudar,
te deixa, assim, sozinha.
Mania de te amar,
Rio de Janeiro,
um vício que peguei
quando nasci.
De te amar em detalhes,
te amar por inteiro,
vontade de abraçar
e de cuidar de ti.

Mas, cidade é cidade,
não gente, que se abraça.
E assim o tempo passa e eu fico na vontade.

Agora surge a deixa
pra eu poder te abraçar.
Calar a velha queixa
de não poder te tocar.

Quero plantar tuas praças,
quero varrer-te as ruas,
quero louvar-te as graças,
limparte-te as praias nuas,
cantar-te em serenatas,
saudar tuas regatas.
Quero sair à tardinha,
me encantar nas vitrines
onde tu te exprimes
expondo criação
e ver a exposição
de tua arte inspirada
desta gente abençoada
que é teu coração.
Sorrir ao meu vizinho
que me passa a piada,
jeitinho carioca
da gente criticar;
visitar Botafogo
meio à chuva pesada
e de não ser afogada
que é um bairro, não mar.
Quero ir à praia limpa
numa manhã supimpa
e dividir a areia,
mesmo que esteja cheia,
com gente e apenas gente,
bronzeada e contente.
Sexta - feira ir À feira
comprar frutas maduras,
uns peixes e verduras
para a semana inteira
e temperos e flores
e plantas e peixinhos
e legumes fresquinhos
pra o sábado que é dia
do encontro dos amores.

Quero ir à cascatinha
e senti-la tão minha,
água branca espumando
caindo sobre as pedras...
Na floresta da infância,
toda aquela fragância
e o ar de mistério
de um Rio mais sério
mas cheio de emoção.
À Praça Saens Peña
que cantei emocionada
num verso quase nada
do tudo o que ela era...
Que venha a primavera,
meu Rio de Janeiro!
Que eu te possa tocar,
te curtir por inteiro!
Pelas ruas antigas
das fachadas amigas,
que eu possa passear.
Com esta minha mania
da qual tanto me orgulho,
que eu possa, do meu canto,
-quem sabe? - te ajudar.

Marcia Agrau, Sob o Signo da Lua

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